sexta-feira, 20 de julho de 2018

COMO VOCÊ AGE, DIANTE DA GROSSURA DAS PESSOAS?

Era uma vez... um mago que quer descobrir a autêntica generosidade dos habitantes de sua cidade. Todos sabem que o mago adora disfarçar-se e que um dia ou outro se apresentará em suas casas, mas não sabem nem como nem quando. E cada um quer manter sua boa imagem, para receber em troca algum benefício.

Um dia, o mago vestido como um mendigo bate à porta de uma casa. O senhor que abre o reconhece e quando o mendigo lhe pede comida, ele lhe oferece uma refeição extraordinária, com as melhores comidas preparadas para a ocasião. O mendigo aproveita aquela ótima comida. Num determinado momento, deixa cair o pão no chão e o anfitrião precipita-se em recolhê-lo. Enquanto está abaixado, o mendigo golpeia-o na cabeça e desaparece. O Anfitrião, surpreendido e irritado, comenta: “Era realmente um mendigo, e, além disso, também ingrato. Fui generoso, recebendo em troca um golpe na cabeça.”

Passam-se alguns dias e o mago, ainda vestido de mendigo, bate à porta de outra casa. Imediatamente a porta é aberta e ele é convidado a acomodar-se na sala de almoço, onde estavam para servir a refeição. A mesa está bem posta, com uma toalha de linho, bordada com fios de ouro, e a comida é servida em pratos de prata. Aqui também o mendigo, após ter comido e bebido, deixa cair um pedaço de pão. O dono da casa se apressa em recolhê-lo e o mendigo lhe da um golpe na cabeça e desaparece. Esse senhor também fica irado com o comportamento do mendigo, que não soube bem avaliar sua acolhida.

Passam-se alguns dias e o mago, sempre vestido de mendigo, bate numa terceira casa. Alguém lá de dentro lhe diz para entrar, a porta está aberta. Pede comida, e a pessoa ocupada diz que pode servir-se sozinho, que abra a dispensa e pegue o que desejar. O mendigo come e o dono da casa continua a fazer suas coisas. Acabando de comer, o mendigo deixa cair o pão. O senhor nem percebe. Então o mendigo chama a sua atenção para o fato. O anfitrião comenta: “Sinto muito por você. É importante tratar com respeito o alimento, mesmo se esse lhe foi doado. De qualquer jeito, se você quiser pode recolhê-lo, pois o chão está limpo.”

O mago, após ter transformado o pedaço de pão em ouro, desaparece.
Pense nisso
Marisete Silva

quarta-feira, 4 de julho de 2018

O SEGREDO DOS ESPELHOS ESTA NOS OLHOS DE QUEM VÊ


Era uma vez...  um castelo medieval habitado por um rei, uma rainha, e toda a sua corte. Cada quarto tinha um 
espelho que era muito pouco usado. Ninguém gostava de se ver no espelho; ao contrário, todos sentiam um certo desconforto olhando a própria imagem refletida. Um dia, não se sabe como, quebra-se o espelho de um dos quartos. Após alguns dias, a rainha nota que naquele quarto sem espelho alguma coisa tinha mudado. As pessoas param para conversar, trocando opiniões, conhecimentos e risadas. Nota-se um clima alegre e relaxante, que não somente faltava antes, mas que continua a faltar nos outros quartos.
A rainha conversa com o rei, afirmando que, para ela, o motivo da mudança deve-se a falta do espelho. O rei parece não acreditar na rainha, mas ela, mostrando-se convencida, deseja verificar sua hipótese com um experimento. Pede ao rei que tire o espelho de um outro quarto e observe o que acontece.
Após alguns dias, o rei não pode senão dar razão à rainha, nesse quarto também se verifica o mesmo fenômeno: as pessoas sentem-se à vontade, não existe mais aquele desconforto, aquele incômodo que se notava antes e que se percebe ainda nos quartos com espelhos.
Não necessitam de outras provas, mas estão curiosos em conhecer a origem daqueles estranhos espelhos. Então, o rei faz uma pesquisa nos arquivos do reino, descobrindo que tinham sido construídos por um alquimista, que possuía a ambição de indicar a perfeição. Preparando a mistura para os espelhos, tinha usado uma fórmula mágica, que exibia os defeitos de quem se deixasse neles refletir. O alquimista achava que poderia estimular as pessoas a melhorarem a si mesmas, a corrigir seus defeitos. Essa era a intenção positiva do alquimista, mas infeliz e contrariamente tinha obtido desconforto, mal-estar e vergonha. As pessoas não gostavam de ver de perto os próprios defeitos, sem poder, ao mesmo tempo, ver os próprios méritos.
O rei e a rainha decidem então eliminar os velhos e comprar novos espelhos. O rei ocupa-se pessoalmente da compra, pois dessa vez, não quer correr riscos.
Vai então à cidade dos espelhos, rodando pelas lojas, a procura da mais adequada. Entra na primeira, onde encontra um vidraceiro especializado em molduras. Enquanto o rei pede para ver alguns espelhos, o vidraceiro mostra a beleza, o valor, a fartura, o refinamento e a preciosidade de suas molduras. O rei percebe que não é esse o vidraceiro que lhe serve e parte para outra loja. Na segunda loja, o rei vê belíssimos espelhos de mosaico, compostos por inúmeros fragmentos elegantemente reunidos, mas que só permitem a visão de um pequeno pedaço de cada vez e não da figura inteira: essa também não era a loja que o rei estava procurando. Entra numa terceira e percebe logo que nessa vendem-se espelhos que fazem parecer alto quem é baixo e baixo quem é alto; magro quem é um pouco gordo e um pouco gordo quem é magro. Então, o rei acha que já chega de espelhos deformantes, não é o que procura.
A essa altura, o rei está perplexo. Não pensava que a busca por um simples espelho pudesse ser assim tão complicada. Ocupado nesses pensamentos, ouve alguém cantarolar.  Deixa-se guiar pelo canto, chegando num ateliê onde um vidraceiro está terminando um espelho. O rei observa-o trabalhar e lhe bastam poucos indícios para compreender a habilidade do vidraceiro acompanhada por uma profunda serenidade.
Curioso, o rei pergunta o que o faz assim tão sereno. E o vidraceiro responde: “Tenho um trabalho que amo e me da satisfação, uma mulher amiga e companheira fiel e dois filhos saudáveis e simpáticos. Não existe nada no mundo que eu possa desejar mais do que isso.” O rei, então, pergunta o que tem de especial em seus espelhos. O vidraceiro responde que seus espelhos são muito simples, essenciais, executam sua função natural. O rei pergunta qual é a função natural de um espelho. O vidraceiro responde: “Refletir.” O rei não parece satisfeito com a resposta e de novo pergunta ao vidraceiro: “Diga-me, você que é um especialista, qual é o segredo encerrado nos espelhos, qual é a sua magia?” O vidraceiro pensa por um instante e responde: “O segredo dos espelhos está nos olhos de quem vê”.